O Estado de São Paulo - Caderno 2
"As multifacetas do músico em homenagem no Sesc Pompéia"

Por Lauro Lisboa Garcia
26/01/2006

EM CONCERTO: O cancioneiro, o chorão, o sinfônico. Estas são algumas das facetas de Radamés Gnatalli em destaque no concerto que o Sesc Pompéia (Rua Clélia, 93, tel. 3871-7700) apresenta de hoje a domingo (com ingressos de R$ 5 a R$ 15) em sua homenagem. Quem rege o concerto é Laércio de Freitas, que integrou o sexteto de Radamés e, como o mestre, é maestro e pianista. No elenco estão a cantora Mônica Salmaso, o saxofonista Roberto Sion, o acordeonista Toninho Ferragutti, o violinista Cláudio Cruz, o violonista Alessandro Penezzi e a Orquestra Jovem Tom Jobim, formada por bolsistas de 15 a 25 anos.

Entre as composições escolhidas por Freitas estão os choros Bolacha Queimada e Zanzando em Copacabana, a canção Amargura, peças camerísticas como Sonatina Coreográfica e Sonata para Cello e Piano, encerrando com o Concerto para Violino e Orquestra. "Queremos chamar a atenção do público sem fazer mistério. As pessoas não saem de casa para não entender as coisas", explica Freitas. Em suma, procurou nos arranjos traduzir Radamés de forma acessível, sem abrir mão da qualidade, naturalmente.

Em dez anos de 'contato estreito' com Radamés, Freitas diz que aprendeu muito, mas sem se prolongar em perguntas. Bastava ouvi-lo. "Ele não tinha muita paciência para dar aula", lembra o discípulo. Para ele, Radamés era um cancioneiro como poucos. "Hoje em dia não há muitos. Caetano Veloso tem uns surtos de vez em quando", brinca Freitas. Também a exemplo do homenageado, o maestro promete não falar muito sobre sua história ("o público quer ouvir música"), mas vai abrir o concerto como que convidando a platéia para um giro pelo auditório da Rádio Nacional dos anos 40. Mais especificamente pelo programa Um Milhão de Melodias, que estreou em 1943 e ficou 13 anos no ar.

Naquela época não havia orquestras tocando música brasileira. Radamés inovou não apenas ao criar arranjos para orquestras com sotaque brasileiro, mas por imprimir sofisticação erudita na música popular. Em 1968, Radamés levou a experiência do rádio para a televisão. Por 11 anos trabalhou como maestro e arranjador na Rede Globo. Se ouvisse o que toca hoje nos programas da emissora é provável que tivesse uma síncope.


Sesc Pompéia - Radamés Gnatalli - Cem Anos
Dia(s) 27/01, 28/01, 29/01 Sexta e Sábado, 21h • Domingo, 18h.
Homenagem ao compositor e arranjador com Laércio de Freitas, Roberto Sion, Claudio Cruz, Toninho Ferragutti, Alessandro Penezzi, Mônica Salmaso e Orquestra Jovem Tom Jobim. Nascido a 27 de janeiro de 1906, Radamés é um dos personagens que mais naturalmente circularam entre os universos popular e erudito na música, sendo uma figura-chave para se entender as tênues fronteiras que envolvem a música brasileira. Em 1924, recém-formado, foi para o Rio de Janeiro se apresentar no Teatro Municipal, executando um concerto de Tchaikovski sob regência de Francisco Braga. Nessa viagem conheceu o compositor Ernesto Nazareth, e passou os dois anos seguintes entre Porto Alegre e Rio, sempre trabalhando com música erudita. Em 1934 passou a ser o orquestrador da gravadora Victor e dois anos depois participou da inauguração da Rádio Nacional. Lá Radamés atuou como pianista, solista, maestro, compositor, arranjador, usando sua bagagem erudita no trato com a música popular. Em 1943 criou a Orquestra Brasileira de Radamés Gnatalli, que tocava os arranjos do maestro no programa Um Milhão de Melodias, dando um colorido brasileiro aos sucessos estrangeiros. Para isso, Radamés passou a usar os instrumentos da orquestra de forma percussiva, conseguindo efeitos até então inéditos. Em 1983, recebeu o prêmio Shell na categoria música erudita, concedido por unanimidade, ocasião em que foi homenageado com um concerto no Teatro Municipal, que contou com a participação da Orquestra Sinfônica do Rio de Janeiro, do Duo Assad e da Camerata Carioca.
SESC Pompéia • Teatro - Rua Clélia, 93 - Pompéia - São Paulo - SP (11) 3871-7700
Entrada: R$ 15,00; R$ 11,00 (usuário matriculado e dependentes). R$ 5,00 (trabalhador no comércio e serviços matriculado e dependentes). R$ 7,50 (acima de 60 anos e estudante).

<  voltar  -  topo   


© Grupo Estado | SESC