www.clubedejazz.com.br

Léa Freire, artista e empresária

Por: Wilson Garzon
06.04.2007

Léa Freire, dublê de flautista e proprietária do selo Maritaca, em entrevista ao Clube de Jazz, relata suas influências musicais, sua visão como gestora de um selo instrumental e sobre o lançamento de seu último CD, Cartas Brasileiras.

A flauta de Léa Freire em pleno vôo, acompanhada pelo piano de Mozar Terra
Léa Freire, tem em sua discografia 6 cds, que começa com Ninhal (1997), passa pela Antologia da Canção Brasileira, vol.1 e vol. 2, que realizou com o trombonista Bocato e termina com Cartas Brasileiras (2007). O selo Maritaca já tem 10 anos e lançou 30 cds de alta qualidade, tendo em seu elenco, instrumentistas como Teco Cardoso, Arismar do Espírito Santo, Vinícius Dorin, Mozar Terra, Nenê, Filó Machado, Cláudio Celso, Zeli e Nailor Proveta com sua Banda Mantiqueira, entre tantos outros. Para conhecer melhor o repertório do selo, nada melhor que fazer uma visita no site www.maritaca.art.br

Wilson Garzon - Como se deu seu encontro com o Jazz?
Léa Freire - No CLAM - escola do Zimbo Trio. Meus pais gostam muito das orquestras de Jazz, cantores e cantoras e a gente ouvia muito isso desde pequeno - meu pai arriscava um My Way de vez em quando com minha mãe ao piano. Mas a forma - improvisação, choruses, harmonia, levada - tudo isso fui conhecer de verdade no CLAM. Tive aulas com o Amilson Godói (Tuca), com o Luis Chaves e o Cyro Pereira lá. Dei sorte que o CLAM era super perto de casa - ia à pé - e fui a matrícula nr 4 da escola. Fiquei lá de 74 a 78 - sendo que de 75 em diante dava aulas de violão, flauta e solfejo.

WG - E com a Música Instrumental Brasileira?
LF - Sempre gostei de choro, a gente ouvia Baden, Paulinho Nogueira. Tive uns grupos de música na adolescência que apesar de quererem ser grupos de rock eram de música brasileira - os temas mais legais saiam brasileiros - e acho isso ótimo. Em casa a audição era "democrática" - a gente ouvia eruditos, populares, nacionais, estrangeiros, de tudo um pouco. No CLAM também conheci muita gente boa - Nico Assumpção, Cláudio Celso - fora os amigos dessas pessoas - e foram se formando bandas. Na mesma época conheci o Filó Machado - por outros caminhos - e a gente tocava junto pelas ruas de São Paulo - escadas da 9 de Julho, praças (hoje fazer isso nem pensar...). Conheci nessa época o Arismar, o Caito Marcondes, o Bocato e muitos outros.

WG - Como se deu a produção / criação de primeiro cd, "Ninhal"?
LF - Demorou uns quatro anos pra fazer esse CD - eu morava em Sorocaba e as gravações aconteciam em São Paulo. Parei de tocar em 86 e só voltei em 97 - no lançamento do Ninhal. Nesse intervalo comecei a compor - o Ninhal é um disco autoral. Como o processo foi longo, foi entrando um monte de amigos músicos nas gravações - o Ninhal tem participação de 55 músicos / arranjadores / compositores. A Joyce ouviu uma faixa no estúdio num dia que eu nem estava lá, fez uma letra na hora e gravou ! é muita sorte...

WG - Quais foram os fatores que te levaram a criar a Maritaca?
LF - Sou formada em administração e resolvi juntar as carreiras. Me pareceu que a melhor maneira de fazer isso seria criando uma produtora de música de qualidade, que divulgasse e registrasse o trabalho de músicos maravilhosos que a gente tem no Brasil hoje. A Maritaca comemora 10 anos em 2007 e temos mais de 30 cds no catálogo.

WG - Como o catálogo da Maritaca está sendo distribuído?
LF - Pela Tratore, empresa especializada em distribuição de independentes. Achei que o melhor seria focar na produção e deixar as vendas com especialistas.

WG - Que futuro vc projeta o futuro dos negócios com a atual ascensão do MP3 no mercado fonográfico?
LF - Acho que nos próximos 2 ou 3 anos o download vai ser o canal de distribuição de música. Ainda não tem um padrão de software (MP3, MP4 e outros) nem de hardware (iPOD, celular, etc), e as editoras estão desconfiadas e cobrando muito caro, mas tudo isso tende a se resolver.

WG - Conte um pouco sobre seu último lançamento, Cartas Brasileiras.
LF - Cartas Brasileiras é um CD de música brasileira na sua visão mais ampla - tem orquestra, regional, duo de piano, quinteto de clarinete, e conta com músicos que representam um pensamento musical que evoluiu através desses últimos 30 anos - um movimento musical completo e rico, mas ainda à espera de um nome que o identifique. A música brasileira não tem essa separação entre erudito e popular como acontece em outros paises, aqui a fronteira é mais tênue, talvez pela própria natureza do brasileiro, gregária e festeira - claro que existem resistências aqui e ali, mas quem liga?

Então o Teco Cardoso produziu - com várias maravilhosas idéias que nos deram um trabalhão! O Gil Jardim fez um arranjo e regeu a orquestra convidada - maravilhosos músicos vindos da OSESP, OSUSP, Municipal e outras orquestras - e tivemos ainda como convidados: Nailor Proveta Azevedo (sax, clarinete e arranjo), Tiago Costa (piano e arranjo), Mozar Terra (piano e arranjo, em sua última gravação), Sujeito à Guincho (arranjos do Luca Raele), André Mehmari, Felipe Senna, Zé Alexandre, Guello, Toninho Carrasqueira, Paulo Belinatti, Izaias de Almeida, Israel de Almeida, Mônica Salmaso, Daniel D'Alcântara, Victor Alcântara, François de Lima, Walmir Gil, Paulo Braga, Zezinho Pitoco, Edú Ribeiro e muitos outros.

E a gravação foi quase que inteiramente feita direto, ou seja, poucos overdubs, pelo Homero Lotito, que também mixou e masterizou - e a capa maravilhosa foi feita pelo Marcílio Godoi, parceiro de longa data, responsável pela "cara" da Maritaca. Essa produção durou dois anos e meio - de outubro de 2004 até começo de 2007 e o lançamento vai acontecer dias 11, 12 e 13 de Maio no Auditório Ibirapuera - com a OCAM (Orquestra de Câmara da USP), regência do maestro Gil Jardim, e um monte de convidados. Os arranjos estão sendo revisados, ampliados e incluídos para o lançamento, então vai ser uma coisa nova e fresca - e a TV USP vai gravar - enfim - um evento imperdível.

WG - Que lançamentos estão sendo previstos para 2007?
LF - Fora o Cartas Brasileiras estamos lançando agora uma caixa em homenagem a Benedito Lacerda, com 4 CDs - que resgata o valor imenso desse músico e tem suas composições, seus arranjos, seus vários grupos, e em encarte sensacional com uma linha do tempo relacionando fatos históricos e um "Abenedário" com todos as pessoas que participaram das gravações com breve currículo. A caixa está linda mesmo, e se chama "Benê, o flautista".

Teremos ainda um disco maravilhoso de duo do pianista Laércio de Freitas com o violonista Alessandro Penezzi - uma das maiores revelações do violão dos últimos tempos. Eles interpretam composições de Jacob do Bandolim e uma forma muito rica e lúdica, imperdível.
O violinista Ricardo Herz

<  voltar  -  topo   


© clube de jazz 2004