Jornal O Estado de Maranhão
Benedito Lacerda Resgatado em Quatro CDs
por:
Zema Ribeiro
São Luís (MA), 29.07.08

Benedito Lacerda (com a flauta na mão) e Pixinguinha
(o mais alto, à direita): talvez a mais frutífera parceria da música brasileira
“Atenção, pois, ouvintes, procurem entender o que vão conversar, por meio de seus instrumentos, o Benedito e o Pixinguinha através deste choro que se chama Cochichando”. A voz de Almirante, entre chiados, apresenta a dupla Benedito Lacerda (flauta) e Pixinguinha (saxofone), durante o programa, Pessoal da Velha Guarda de Almirante, gravado em 8 de outubro de 1947. “Este choro não teve gravação comercial”, anuncia o rico libreto que acompanha os quatro discos da primeira caixa de Será o Benedito?!? (Maritaca, 2006), trilogia musical da obra do polêmico (e genial) Benedito Lacerda.

Divididos cronologicamente, por assunto, os quatro discos da primeira caixa, Benê, o flautista, são Grupo Gente do Morro, Benê & Pixinga e o Regional de Benedito Lacerda (partes I e II) e apresentam várias facetas da obra do “flautista, cantor, chorão, compositor, sambista, carnavalesco, arranjador, polêmico, político, empresário, fazedor, idealista, criador, financista, patrão, letrista, fumante, sindicalista, o branco d’alma preta”.

Benedito Lacerda está para Pixinguinha como Vadico está para Noel Rosa. A primeira relação é injusta: foi Benê, a intimidade que a caixa nos dá, quem tirou Pixinguinha do ostracismo, num dos vários episódios que o luxuoso libreto de 90 páginas traz: Pixinguinha, alcoólatra e com as mãos trêmulas, já não tinha embocadura para a flauta, seu instrumento de origem. Foi tocar saxofone e um “contrato” com Benedito Lacerda os levaram a assinar juntos todas às músicas compostas por um ou outro, dali em diante. A Benê restou à fama de “ladrão” de músicas, quando eles inauguraram um modelo que se tornaria comum com outros nomes importantes da música como Lennon e McCartney ou Roberto e Erasmo Carlos.

Tendo vivido apenas 55 anos, Benedito Lacerda (1903-1958) é, sem dúvida, importantíssima figura resgatada neste projeto patrocinado pela Petrobras, através da Lei de Incentivo à Cultura do Ministério da Cultura. Gravou com todas as grandes estrelas da música popular brasileira da época e tocou em mais de mil gravações, entre autor e intérprete. 83 faixas integram os quatro discos desta primeira caixa.

Tendo sido provavelmente o primeiro empresário da música brasileira, enxergando a música como profissão e acabando, por exemplo, com a figura do bêbado no regional, do músico desalinhado ao se apresentar em programas de rádio ou shows - como bem gostava de frisar Jacob do Bandolim -, Benedito Lacerda tem sua obra reeditada de forma pouco preocupada com o mercado: para os produtores, há a necessidade de despertar o interesse dos jovens pela música brasileira, independentemente da idade desta, mas há o interesse em preservar essa obra. Homero Lolito, engenheiro de som que conduziu o tratamento técnico das gravações que compõem “Benê, o flautista”, explica que “optou-se por manter a máxima integridade sonora dos instrumentos e das vozes originais. (...) Então optamos pelo chiado”.

O projeto de resgate da obra musical de Benedito Lacerda deve ter continuidade em breve, com o lançamento das outras duas caixas, “Benê, o criador” e “Benê, o fazedor”, abordando outras facetas deste importante, curioso e polêmico personagem da música brasileira.

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