Jornal do Brasil
- 01/06/2005
"Fina flor do instrumental"

Por: Tárik de Souza

Vinicius Dorin, Léa e Bocato e Caíto Marcondes
desembarcam em novos CDs


Bocato une-se à flauta
de Léa Freire em ‘Antologia’

Trombonista ultra versátil, capaz de viajar do hip hop do Pavilhão 9 aos choros de Pixinguinha, Bocato une-se à flauta baixo de Léa Freire numa luxuosa Antologia da canção brasileira.
Saxofonista, flautista e pianista que desde 1993 integra a seleção de ases instrumentais de
Hermeto Pascoal, Vinicius Dorin debuta solo em Revoada, liderando quinteto com participações do próprio Hermeto e Arismar do Espírito Santo.

Percussionista que começou no piano e estudou composição e análise com o modernista-mor
Koellreuter (mesmo mestre de Tom Jobim e Rogério Duprat), Caíto Marcondes sola em Auto-retrato, com intervenções vocais das cantoras Mônica Salmaso e Marlui Miranda. Gravado ao vivo em março do ano passado no Espaço Cachuera!, em São Paulo, o disco de Caíto sai em edição caprichada do selo Maritaca, o mesmo dos discos de Dorin, Léa Freire & Bocato. Integrante da Orquestra Popular de Câmara como percussionista compositor e arranjador, Caíto trafega entre o folk e a vanguarda. Relê um com o viés do outro e vice-versa. Se em Urbania injeta uma batida funk cadenciada por palmas, Folha solta flutua no sotaque do maracatu. A utilização de marimbas e xilofone remete eventualmente à pegada etérea do grupo Uakti, assim como alguma ambientação de vozes e tambores pode evocar Naná Vasconcellos. Mas Caíto tem marca própria, como ecoa Beira rio (Negro) na voz cristalina de Mônica Salmaso: ''No fundo do rio tem areia/ na boca do rio tem o mar/ quando a aranha tece mal a teia/ é sinal que é hora de voltar''.

Sem qualquer intromissão vocal, Vinicius Dorin desbrava as fusões de contra ritmos e solos que tornaram um tanto abstrata a semântica da música instrumental entre os 70 e 80. Isso ocorre em temas como
Caminho verde, Guaramiranga e Escadaria. Quando seu quinteto (mais Fernando Corrêa, guitarra; Írio Junior, teclados; Enéas Xavier, baixo; e Nenê, bateria) aproxima-se de algum gênero definido, a inventiva do grupo soa mais nítida. São os casos de Maracatudo, do samba choro estilizado Gota serena, modelado por piano, e mesmo da meditativa Balada em sol para si. Única conhecida, Violão vadio, de Baden Powell e Paulo Cesar Pinheiro, permite longas digressões ao solista, enquanto Viniciando, homenagem ao discípulo (revezando-se nos saxes alto, soprano e barítono, piccolo e flauta) de Hermeto (que participa no piano e percussão), desanda num free incendiário.

Polido de estridências, o encontro do trombone de Bocato com a flauta baixo (que dá profundidade e forra a cama) de Léa Freire completa-se na nouvelle cuisine de
Michel Freidenson (piano), Djalma Lima (guitarra), Sizão Machado (baixo) e Edu Ribeiro (bateria). A seleção de clássicos aveludados do samba canção (Folha morta, Nossos momentos, Nunca, Neste mesmo lugar) admite uma valsa (Boa-noite, amor) e dois ícones do samba lento assinados por Cartola (As rosas não falam) e Nelson Cavaquinho (Luz negra, com Amâncio Cardoso). De tão intensa luminosidade, é preciso ouvi-los com óculos escuros. Também as menos conhecidas foram bem escolhidas, como a linda bossa/balada Imagens (Luis Eça/ Aloysio de Oliveira), a jazzística Blue note (Fátima Guedes/ Filó Machado) e a sutil Andorinha, crivada de contrapontos, digital indelével do autor Tom Jobim. A música passou despercebida na obra-prima Stone flower, de 1970, injustiça corrigida por Léa & Bocato.

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