Jornal Atarde
- Salvador 17/05/2004
Aula de Jazz
- Filó Machado
Por Luciano Aguir
Gravadora: Maritaca

Liberdade para os que se aventuram na é o que parece proclamar o novo disco de Filó Machado, Jazz de Senzala, lançado pelo selo Maritaca.
Aos 53 anos, depois de muita poeira e estrada , o cantor, violonista, guitarrista e compositor é, mais uma vez, brilhante em seu trabalho, ainda pouco conhecido do público.

Natural de Ribeirão Preto (SP), esteve sempre injustamente no que se pode chamar de limbo da MPB, com o nome, até hoje, fora da grande mídia, apesar das parcerias com Djavan, Cacaso, Aldir Blanc, Fátima Guedes e outros e de ter atuado em discos e shows ao lado de artistas como Ivan Lins, Johnny Alf, Flora Purim, Tito Madi, Michel Legrand e Jon Hendricks.

Filó é completo, filho temporão da grande safra da MPB, vinda depois da invenção da bossa e que gerou, nas décadas de 60 e 70, o mais arrojado cancioneiro popular do mundo. O cara tem execução impecável, tanto na voz quanto no instrumento, com os quais improvisa e domina. Mas a qualidade dele vai muito além da técnica, invade o ouvido com seu profundo conhecimento harmônico e total sensibilidade.

Uma versão rearmonizada de Procissão (Gilberto Gil) abre o disco com chave de ouro. O violão picotado em diálogo rítmico com a voz é de meter medo em muita fera do jazz. Se na faixa 1 do CD o improviso vocal de Filó causaria inveja em um Bobby Mcferrin, na 3, cantando Aqui Ó!, ao lado do gênio e compositor da canção, Toninho Horta, deixa Al Jarreau de queixo caído.

No mesmo clima de violão suingado com um bom jogo de baixo e "empenações harmônicas", entram faixas como Meninos das Laranjas (Theo de Barros), Notícias do Brasil (Milton Nascimento / Fernando Brant) e É Difícil Perdoar (Amado Maita). Algumas músicas contam com a participação de músicos de ponta, como o baixista Arismar do Espírito Santo e a flautista Léa Freire, também produtora do disco.

Essas faixas e todas as demais, cinco delas de Filó, justificaram sozinhas a gravação do disco e uma merecida consagração desse músico, que dá uma verdadeira aula de jazz para o mundo.
Primeiro, porque não desperdiça discurso com o vazio - parte de um repertório consistente em termos composicionais, facilmente encontrado no seu balaio criativo e na MPB.
Segundo, consegue ser extremamente original numa música que exige muito esteticamente, mas que parece não ter chegado nem perto do fim - a brasileira.

<  voltar  -  top   


© Jornal Atarde