Jornal A Tarde
Benedito Lacerda

por: Laura Dantas
BA 06.07.2007

Benedito Lacerda (1903-1958) foi um dos músicos brasileiros mais atuantes da primeira metade do século XX. A julgar pelo papel que desempenhou como flautista, compositor, cantor e arranjador, Benê, como era chamado, é daqueles que, mesmo não fazendo parte do panteão dos mais lembrados, figuram entre os grandes nomes da musicografia nacional.
Compositor de aproximadamente 700 músicas e reconhecido como o introdutor do samba no choro, Benedito Lacerda ganha, finalmente, uma homenagem à altura da sua relevância.
Acaba de ser lançada, pela Maritaca Discos, com distribuição da Tratore, a caixa Benê, O Flautista, a primeira de uma série de três, com quatro discos que recuperam passagens importantes da obra do artista.

O projeto, selecionado pelo programa Petrobras Cultural 2004, foi coordenado pelo músico e pesquisador Paulo Flores e apresenta, nessa primeira etapa, além de um libreto ilustrado – que traz a cronologia do músico, letras de canções e um curioso ‘abenedário’, com personagens que fizeram parte da geração de Benedito Lacerda –, fonogramas históricos de fases distintas da carreira do músico.

O trabalho de restauração alterou a sonoridade das gravações originais feitas nas décadas de 30 e 40. “Os fonogramas em 78 rpm foram afinados no padrão Lá = 440 Hz, resultando numa diferença brutal no andamento e no timbre, principalmente das vozes dos cantores”, explica o texto de apresentação da caixa.
Mesmo que as intervenções tecnológicas comprometam um pouco o valor histórico do material, as faixas ganharam em clareza e uniformidade.

PIXINGABenedito Lacerda começou a tocar flauta aos 8 anos e integrou, nos anos 20, bandas da Polícia Militar, regionais, grupos de choro e até orquestras de jazz, atuando como saxofonista. No início dos anos 30, ele organizou um conjunto que misturava elementos da cultura afro-brasileira com música européia e choro. O grupo, batizado pelo sambista Sinhô como Gente do Morro, gravou várias composições de Benedito, entre elas G orgulho, Isaura e Pretensioso, que integram o CD 1 da coleção que traz o músico como solista e cantor.
Nos início dos anos 40, Benê estabeleceu com Pixinguinha uma das parcerias mais importantes e polêmicas da história da música brasileira. Consta que Pixinguinha concedeu ao flautista a co-autoria de algumas peças célebres, como Sofres Porque Queres e 1X0, depois que Benê o ajudou a quitar a hipoteca da casa e a sair do ostracismo. O fato é que a dupla assinou e gravou uma série de clássicos como Ingênuo, Vou Vivendo e Naquele Tempo, resgatados no CD 2, no qual a afinidade da dupla, em 24 gravações antológicas, impressiona os ouvidos.
Com o fim do Gente do Morro, Benê organizou um regional que viria a ser um dos mais requisitados por estrelas como Carmen Miranda, Mario Reis, Francisco Alves, Aracy de Almeida e Silvio Caldas. Formado por Canhoto (cavaco), Dino Sete Cordas (violão 7 cordas), Meira (violão) e Popeye – depois substituído por Gilson de Freitas – (percussão), além de Benedito (flauta), o grupo marcou época. Os CDs 3 e 4 reúnem exatamente a fina-flor de um repertório celebrizado em mãos de raro talento, caso de sucessos como Boneca (Benedito Lacerda e Aldo Cabral), na voz de Silvio Caldas e outros. Benedito morreu aos 55 anos, depois de gravar em mais de mil discos.

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