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"As independentes têm que quebrar a barreira do jabá"
por: Ricardo Fernandes
Fortaleza 07.10 2005

“Através do abuso do poder econômico das ‘majors’, do jabá,
as independentes vivem uma censura brutal na difusão dos seus catálogos”

Em entrevista à Hora do Povo, a flautista e compositora Léa Freire, que comanda a gravadora independente Maritaca, localizada em São Paulo, contou um pouco de sua experiência como produtora dentro de uma mercado fonográfico que vive uma aguda crise gerada pela ação do jabá praticado pelas gravadoras multinacionais (Sony/BMG, Universal, Warner e EMI) que impede a difusão da música de qualidade produzida no Brasil através da monopolização dos meios de divulgação

POLÍTICA PÚBLICA
“As gravadoras independentes têm que quebrar a barreira do jabá”, afirmou Léa, apontando que, “somente através da democratização dos meios de comunicação e de uma política pública que incentive o aumento do número de rádios, para que haja uma concorrência justa, combateremos a influência do cartel, tornando interessante, programações com mais qualidade”.

“Com uma política séria, bem regulada, a ação do jabá se torna ineficaz. Quando você socializa os meios você tem uma imensa variedade de produtos. Isso obriga que todo o mercado entre em uma nova conjuntura, não por decreto, mas através da democratização do espaço”, continua Léa, destacando que, “pelo visto, essa não tem sido a postura do governo atual”.

Para ela, “o jabá é uma forma de abuso econômico, de monopólio dos meios de comunicação e difusão que cerceia a divulgação das nacionais e promove à pequena produção das ‘majors’”.

Do mesmo modo, Léa ressaltou que, “há também as cotas, que obrigam as rádios a tocar música regional. Nesse sentido a iniciativa do governo do Paraná é muito interessante como experiência, mas, já que as concessões das rádios e televisão são públicas, tem que haver uma política nacional para que se leve cultura e educação à população”. “Medidas que caminhem para a legalização e ampliação do número de rádios de menor porte, de rádios comunitárias que, além de distribuírem melhor o espaço nas rádios propondo uma diversificação do repertório, enfraquecem a ação do jabá, pois, com mais opções, haverá uma diversidade maior de rádios para que o consumidor possa escolher”, destaca Léa.

Comentando os dados de 2005 sobre a situação do mercado fonográfico brasileiro, onde 95% do espaço nos meios de comunicação pertencem às gravadoras multinacionais que, em contrapartida, representam apenas 6,22% da produção nacional, Léa afirma que, “as ‘majors’ optaram por um investimento massivo de mídia. Através do abuso do poder econômico das ‘majors’, do jabá, as independentes vivem uma censura brutal na difusão dos seus catálogos”.

MARITACA
Contando como surgiu a idéia de montar uma gravadora e distribuidora, Léa lembra que, “a Maritaca começou como um selo, da qual eu era diretora, quando fiquei 11 anos sem tocar. Então me formei em administração para ter uma formação para aliar as duas carreiras, a de instrumentista/compositora com a de empresária”. “Aí, juntei a fome com a vontade de comer. Com o selo comecei a registrar alguma coisa minha ou de alguma pessoa cujo trabalho eu achava interessante, como o Arismar do Espírito Santo, Filó Machado e a Silvia Góes”, relata.

“A idéia foi dando certo e fomos conseguindo montar uma estrutura cada vez melhor. Então, a partir de 2004, decidimos montar uma distribuidora também dando prioridade à música de qualidade”, conta Léa, ressaltando que desde o início “o papel da Maritaca foi viabilizar para o consumidor a rica produção independente. Nosso foco é registrar as composições de artistas que estão fora do esquema das majors, que estão fora da mídia, e que produzem música de excelente qualidade”.

“Hoje já conseguimos distribuir para o Brasil inteiro e a idéia é expandir ainda mais, aumentar o número de lojas que recebem os nossos discos. Há também a idéia de firmar parcerias com selos e gravadoras latino-americanas para que haja esse intercâmbio cultural e a difusão da produção de qualidade brasileira, assim como distribuir a produção latino-americana”, acrescenta.

ERUDITO E POPULAR
Sobre o segmento onde a Maritaca se encaixa, Léa afirma que, “na verdade, a Maritaca transita entre o erudito e o popular criando uma música sem fronteiras. Uma música onde a importância artística se coloca como primordial”. “Nós investimos na mídia do setor tentando quebrar essa censura das ‘majors’ com uma produção cada vez maior e mais abrangente. Nós também recebemos artistas de outros selos e gravadoras que contratam o nosso serviço para produzir seus trabalhos”, comemora Léa, revelando que somente em setembro passado a Maritaca lançou 3 novos discos e que no próximo ano a perspectiva é dobrar o número de títulos do catálogo da gravadora.

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